segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara

As pessoas têm reclamado do filme, por ser pesado. Mas o livro é pesado e intenso. Muito mais até que o filme. Ele incomoda, te faz pensar, e mesmo não querendo, concordar. Não queremos concordar que o ser humano seria capaz daquelas coisas, não queremos reconhecer ali nenhum instinto que possa estar em nós mesmos.

Muitas coisas me impressionaram. O fato de nenhum personagem ter nome foi provavelmente a maior delas. Não porque não tinham nomes... mas porque não senti falta deles. Para que nomes? Quando colocados em uma situação limite, como esta, quem somos não será mais traduzido por um nome ou título, estará ilustrado por ações e comportamentos.

Como se comporta o ser humano quando acha que ninguém está vendo?

Tudo começa quando o primeiro homem cega em um sinal de trânsito, em uma cidade sem nome, em um país sem nome. Este é o começo de uma epidemia de cegueira, nunca vista antes. Não a comum, onde a pessoa fica mergulhada na escuridão. Uma "cegueira branca".

Tentando evitar que a epidemia se alastre o governo interna os primeiros cegos em um hospital que estava desativado, para que fiquem em quarentena. Mostrando que não pode ser impedida, a epidemia atinge a todos, transformando-os em "novos cegos", sem tempo ou ajuda alguma para se adaptar à sua nova realidade.

Apenas uma pessoa mantém a visão, a mulher do médico. Se perder a visão é devastador, ser a única capaz de enxergar também pode não ser nada fácil. Em pouco tempo o lugar se transforma em algo sujo, onde algumas pessoas não julgam mais necessário vestir roupas, tomar banho ou mesmo enterrar seus mortos.

Para os cegos que estão no hospital tudo fica mais difícil quando um homem se auto nomeia 'rei da ala 3' e cria suas regras. Agora será cobrada a comida. A ala que quiser comer precisará pagar. Primeiro com seus pertences. Depois com suas mulheres.

Com todos na cidade também cegos os que estavam no hospital acabam esquecidos, e quando finalmente saem de lá vemos em que se transformou a cidade. Pessoas vagam pelas ruas, já que cegaram de repente e estão impossibilitadas de voltar para suas casas. Uma cidade inteira à deriva, caminhando sem destino em busca de comida. Tentando sobreviver.

O filme é maravilhoso, demonstra ter sido feito por um fã do livro e do autor. Com certeza uma das melhores adaptações de um livro para o cinema. Não teria como ser mais fiel (dentro de duas horas e precisando transportar para imagens as palavras!!!), não somente à historia, mas ao espírito do livro.

Este é um filme daquele tipo, ame ou odeie. E você já deve ter lido por aí que muitos não amaram... Mas para não se iludir, nem reclamar que foi muito pesado, seria bom dar uma olhadinha no que Saramago disse no lançamento do livro (e que se aplica ao filme, como não poderia deixar de ser). Se mesmo assim quiser arriscar... depois não adianta reclamar... "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."

Mais explicadinho que isso... impossível!

Para não perder é só clicar aí embaixo, tem para escolher e até em dual áudio, se você estiver com preguiça de ler...

http://www.mininova.org/tor/2197897
http://thepiratebay.org/torrent/4631205

4 comentários:

Natália Leite disse...

Estava esperando sair com qualidade de som e imagem... já tinha até esquecido que queria baixar esse filme.. rss...
Baixando...

Natália Leite disse...

Ame ou odeie? Com certeza amei...
Excelente filme.

Como operadora do Direito, fez-me recordar as aulas de Filosofia do Direito, onde percebemos o quanto as leis (regras) são necessárias para evitar nossa auto destruição (sair do "estado de natureza")... destruição esta que deveria ser combatida pelos nossos instintos de sobrevivência.

Falando em instintos, ênfase no instinto maternal das mulheres, que salvou o grupo da fome devastadora.
Definitivamente, meu Oscar de melhor filme do ano goes to... Blindness.

TorrentGirl disse...

Que bom que você gostou Natália. Com certeza, meu Oscar também de melhor filme do ano!!! Perfeito, como o livro.
Realmente, o que seria desses homens sem o instinto materno... aliás, o que seria do mundo sem nosso instinto materno?

BerGobbi disse...

Oi. Estou mandando um alô pela minha admiração pelo seu ótimo blog.

Sou o Spaceman do CPT.

;)

 
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